Pessoal, bão aí?
Ó: o encontro com John Shipton, pai do Julian Assange, foi bonito e comovente. Devo mandar um e-mail pra vocês sobre este momento único – que aconteceu em Porto Alegre – ainda na semana que vem. John está no Brasil arrecadando apoio para a libertação de Julian. Fiquem ligados e compartilhem a newsletter para que seus amigos possam assiná-la.
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🥸🤌 Aras foi pego em conversa de zap agindo para ajudar investigado, um escândalo
Surpreendendo um total de zero pessoas, a Polícia Federal encontrou no celular do empresário Meyer Nigri, dono da Tecnisa, uma troca de mensagens entre ele e o atual procurador-geral da República Augusto Aras em agosto do ano passado. O conteúdo dos diálogos gira em torno do inquérito das Fake News que tramita no STF e Nigri é um dos investigados que se sentiu confortável a ponto de pedir a Aras que interferisse no andamento da investigação. E Aras o fez.
Eu sei bem que o campeonato de absurdos do Brasil de 2023 é concorrido, mas esse entra no top 5 com sobra. É um escândalo. O procurador deveria ter caído no mesmo minuto.
O inquérito foi instaurado no ano passado e além de Nigri também foram investigados os empresários José Isaac Peres (Multiplan), Ivan Wrobel (W3 Engenharia), José Koury (Barra World Shopping), André Tissot (Grupo Sierra), Marco Aurélio Raimundo (Mormaii) e Afrânio Bandeira (Coco Bambu). Na última terça-feira (22), o ministro do STF Alexandre de Moraes mandou arquivar a investigação contra a maioria dos empresários, mantendo no escopo do inquérito apenas Nigri e Luciano Hang (o véidavan).
Nos diálogos obtidos pela PF, Nigri busca o contato com Aras logo após saber que poderia estar sendo investigado por impulsionar mensagens golpistas. Uma delas, recebida diretamente de Jair Bolsonaro, é apenas essa 👇
No trecho da conversa entre Aras e Nigri, divulgado pelo UOL, o empresário manda ao procurador dois links de reportagens do Metrópoles que mostram as ameaças golpistas dos empresários em caso de vitória de Lula na eleição presidencial. Nigri pergunta a Aras o que ele acha. Prontamente o procurador-geral diz que vai “...localizar o expediente, pois se trata de mais um abuso do fulano”. O ‘fulano’, neste caso, seria o senador Randolfe Rodrigues, que foi o autor do pedido de investigação? Ou Alexandre de Moraes, juíz da causa?
Conforme a investigação, Nigri agia sob o comando do ex-presidente Jair Bolsonaro, que insistia para que ele disparasse o máximo possível de mensagens contra a Justiça Eleitoral. Poucos dias após a troca de mensagens, Aras pediu ao STF que anulasse os mandados de busca e apreensão emitidos por Moraes. Além de Aras, Nigri também entrou em contato com a vice-procuradora-geral, Lindôra Araújo. Ontem à noite, por uma dessas coincidências da vida, Lindôra pediu o boné e tudo parece que vai ficar por isso mesmo: a PGR fazendo advocacia administrativa pra empresário. Tudo normal.
A defesa de Nigri afirma que em nenhum momento o empresário pediu a Aras que interferisse no andamento das investigações e que o diálogo não dá margem para outra interpretação. Meyer Nigri já prestou depoimento duas vezes à Polícia Federal desde o início da investigação.
Para quem passou os últimos quatro anos engavetando todas as peripécias criminosas do ex-presidente, a tentativa de interferência neste inquérito soa como algo natural. O nome do engavetador-geral da República foi, ainda que de forma discreta, ventilado para permanecer no cargo. Agora, com a divulgação dos diálogos, essa possibilidade, espero, não se concretiza.
Ao ser questionado em uma entrevista dada em um avião para São Paulo sobre a suspeita de que estava incentivando os empresários a disseminarem mensagens contra o processo eleitoral, o ex-presidente respondeu: “Eu mandei (mensagem) para o Meyer, qual o problema?” E, como já virou rotina, Bolsonaro também foi intimado a prestar depoimento neste inquérito.
👮♀️📲 Jair Renan é alvo de operação da polícia
O filho 04 do ex-presidente Jair Bolsonaro foi despertado sutilmente pela Polícia Federal na manhã desta quinta-feira (24). Uma operação cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão em Brasília e em Balneário Camboriú (SC). Dois mandados foram cumpridos em endereços vinculados ao pegador do Vivendas da Barra nas duas cidades.
O alvo principal da operação era o instrutor de tiro de Jair Renan. Maciel Carvalho foi preso em Brasília. A polícia não conseguiu cumprir um outro mandado de prisão. O suspeito é procurado por um homicídio ocorrido em Planaltina (DF), sem ligação com o caso. Ele permanece foragido. O grupo investigado é suspeito de estelionato, falsificação de documentos, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Eis a ficha corrida do parça do 04:
Jair Renan se mudou para Balneário Camboriú após assumir um cargo de assessor parlamentar do senador Jorge Seif (PL/SC). De acordo com a investigação, o grupo por um laranja e empresas fantasmas. Carvalho já havia sido alvo de duas operações da Polícia Civil do Distrito Federal, chegando a ser preso em janeiro deste ano. Ele costuma se apresentar como empresário, coach e pastor da Assembleia de Deus.
Os dois se conheceram quando Carvalho se tornou instrutor de tiro de Jair Renan e de sua mãe, Ana Cristina Siqueira Valle.
Nos endereços do filho 04 os policiais apreenderam um HD, telefone celular e papeis com anotações. Em uma das operações anteriores em que Carvalho foi alvo, os policiais encontraram a Carteira Nacional de Habilitação de Jair Renan em uma sala comercial utilizada pelo suspeito. Na ocasião foram apreendidos documentos, armas, munição, computadores e celulares. Carvalho estava em liberdade provisória. Ele é acusado de utilizar CPFs falsos para obter o registro de CAC e comprar armas. Ele também é investigado por envolvimento com uma quadrilha especializada em falsificar dinheiro.
👑🤏 As jóias do Jair Renan
E a coisa não parece mesmo boa para o galã do Vivendas da Barra. O nome dele aparece em um e-mail de 12 de julho do ano passado em uma troca de mensagens entre Carlos Henrique Holzschuk, Osmar Crivelatti e Adriano Alves Teperino. Os três são ex-ajudantes de Ordem da Presidência da República.
As mensagens referem-se apenas a alguém chamado “Renan” mas, segundo a CPMI que investiga os atos antidemocráticos, se trata mesmo do filho 04. O conteúdo informa que “Renan irá escolher os presentes” recebidos pelo então presidente, mas que só seriam retirados após a autorização de Bolsonaro. Ou seja: Jairzinho puxou ao pai e aparentemente estava pilhando jóias no acervo.
🫣🤫 Mauro Cid fica em silêncio mais uma vez
Convocado a depor na manhã de quinta-feira (24) na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid mais uma vez se utilizou do direito de permanecer em silêncio. Quebrando um pouco da expectativa, Cid iniciou um discurso onde afirmou que uma de suas funções era receber e entregar presentes ao ex-presidente, mas foi só.
Em seguida ele listou outras funções exercidas no período em que permaneceu como ajudante de ordens, porém, em seguida, não respondeu mais às perguntas dos deputados distritais. Mais uma vez usando a fantasia verde-oliva, após o discurso inicial, Cid respondeu a apenas uma pergunta sobre a sua idade: “Tenho 44 anos”. A partir daí, nenhuma outra questão foi respondida.
Cid está preso desde o dia 3 de maio no Batalhão de Polícia do Exército em Brasília, quando a Polícia Federal descobriu que ele havia fraudado o SUS para emitir certificados de vacinação falsos para ele, familiares e para o ex-presidente Bolsonaro.
Uma reportagem do jornal O Globo mostra como é a rotina do militar na cadeia. De acordo com a matéria, o tenente-coronel ocupa uma sala de cerca de 20 metros quadrados equipada com uma televisão e um frigobar – maior do que um apartamento hipster na Santa Cecília. Pela manhã, escoltado por um militar armado, Cid corre por cerca de uma hora em torno do campo de futebol, retornando em seguida para a sala onde passa a maior parte do tempo assistindo ao noticiário. Deve estar se vendo bastante na TV.
🫠🤥 Assessor confirma ter pago boleto da família Bolsonaro
Em depoimento à CPMI que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro, o ex-assessor Luís Marcos dos Reis confirmou ter sido o responsável pelo pagamento de um boleto da família Bolsonaro. Reis, que é sargento do Exército (militar envolvido em falcatrua? Isso não existe!), inicialmente disse não ter realizado nenhum pagamento para a família do ex-presidente, mas admitiu em seguida ter efetuado pelo menos uma operação.
Após a confirmação de ter pago uma mensalidade da escola da filha mais nova dos Bolsonaro, o militar não respondeu a mais nenhuma questão feita pelos parlamentares, mas é grande a possibilidade de o boleto ter sido pago em dinheiro vivo (surpresa). Além disso, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), apontou uma movimentação de dinheiro realizada pelo sargento que não condiz com a sua renda de aproximadamente R$ 13 mil.
De acordo com o órgão, Reis teria movimentado mais de R$ 3 milhões em um período de um ano e meio. O militar também fez uma transferência de R$ 70 mil para a conta do tenente-coronel Mauro Cid em 6 de janeiro deste ano. Era supostamente para a venda de um veículo que teria custado R$ 72 mil, tendo Reis ficado com R$ 2 mil.
O sargento foi convocado a prestar depoimento porque a CPMI está apurando se pessoas do entorno próximo do ex-presidente teriam ajudado a financiar os atos golpistas.
👍🤷🏻♂️ Zanin começa com o pé direito
A votação do STF que definiria a descriminalização do porte de maconha foi adiada em função do pedido de vista do terrivelmente evangélico André Mendonça. O placar até o momento aponta 5 votos a 1 pela descriminalização.
A sessão da última quinta-feira (24) teve o voto da ministra Rosa Weber, presidente do STF e também do recém empossado Cristiano Zanin, que surpreendeu (?) ao ser o único voto contrário à descriminalização até agora. Além de Weber e Zanin, já votaram os ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso.
Com o pedido de vista de Mendonça, o julgamento pode demorar mais 90 dias para ser finalizado. Outra discussão estabelecida na sessão foi sobre o limite que diferenciaria o porte para uso pessoal e o tráfico de entorpecentes. As propostas variam de 25 a 100 gramas. O ministro Gilmar Mendes, relator da matéria, sugeriu que um limite entre 25 e 60 gramas seria razoável.
Zanin tomou um caminhão de críticas pelo voto, que já vinha em uma sequência de outros três votos terrivelmente de direita em sua semana de estreia.
Ele rejeitou o princípio da insignificância em um caso envolvendo o furto de itens de baixo valor. Dois homens foram condenados por furtar um macaco hidráulico, galões de combustível e óleo diesel: R$ 100. A Defensoria Pública da União alegou que o princípio da insignificância deveria ser aplicado, já que os itens foram recuperados. No entanto, Zanin votou contra essa aplicação e apoiou a manutenção da condenação.
Em outra decisão, o STF equiparou o crime de homofobia e transfobia ao crime de injúria racial. Em uma ação movida pela ABGLT, a Corte decidiu, por 9 votos a 1, que atos de discriminação contra a comunidade LGBT podem ser enquadrados no crime de injúria racial, resultando em punições mais severas. Zanin foi contra essa equiparação, enquanto 9 ministros votaram a favor e um se declarou impedido.
Um voto polêmico de Zanin envolveu a derrubada de uma norma que impedia magistrados de julgarem casos em que uma das partes fosse cliente dos escritórios de seus cônjuges, parceiros ou familiares. Fachin, Rosa Weber e Barroso votaram pela manutenção da norma, enquanto Gilmar Mendes, Luiz Fux e Zanin votaram por sua derrubada.
Amém, igreja?
Amém.