As menções à expressão “responsabilidade fiscal”, vistas no tempo, contam uma história. Essa história se resume a uma pergunta: se já temos mais de 20 anos de preocupação com a responsabilidade fiscal, por que ainda achamos que nossos pares, as pessoas que estão na equipe de transição, a própria sociedade brasileira, todos os que não são Bolsonaro e Paulo Guedes, semeiam a irresponsabilidade?
Termina assim uma newsletter assinada pela brilhante economista Monica de Bolle. Aliás, ela está aqui no Substack e você pode assinar seus textos agora e de graça.
A Monica vem tratando do tema do momento: a grana que o novo governo Lula espera ter em 2023 para manter, sobretudo, os programas sociais como Bolsa Família e Farmácia Popular.
O problema: essa grana precisa de autorização do Congresso – ela tramita em uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que vem sendo chamada de PEC da Transição. Para alguns na imprensa, a “PEC do Estouro”. As palavras usadas dizem muito, não é mesmo?
O outro problema: o Brasil tem um “teto de gastos” e esse dinheiro fatalmente precisa estourar esse teto.
Então o cérebro de muita gente grita: “cadê responsabilidade fiscal!?”, e surgem as comparações estapafúrdias entre os gastos de um governo com a gestão financeira da casa do seu João e da dona Maria, como se nosso amado casal imaginário do Brasil pudesse emitir a própria moeda soberana e títulos de dívida. [pois é, essa comparação não faz sentido]
Não, a gestão de um país não é igual nossa economia doméstica.
Sim, o Brasil precisa estourar esse teto.
É melhor vocês lerem a Monica. Assinem a newsletter dela lá em cima. Não deixem “o mercado” dizer o que devemos fazer com nosso país.
Acho muito interessante este posicionamento contra colocar a assistência básica à população alijada do mercado de trabalho como estouro do teto. O governo atual estourou o teto de gastos em todos os 4 anos de governo, mas como o Guedes dizia que empregadas domésticas não deveriam viajar pra Disney e que quem estava com fome deveria comer a sobra do prato da classe média, então estava tudo bem. Fico na dúvida se é hipocrisia ou "genocídio social" mesmo.
Me considero de esquerda: votei no PT em 2002, defendo a redução da desigualdade social (e acompanho o assunto), me revolto com racismo e homofobia, mas isso não quer dizer que tenho que apoiar o PT ou todas as causas de esquerda (me esforço pra ser imparcial), porque, infelizmente, partidos políticos no Brasil são todos corruptos (sim, todos), e, felizmente, eu entendo de mercado financeiro (há mais de 20 anos - e mercado é diferente de economia), então posso afirmar: não é frescura do mercado controlar o nível de dívida ...