🌪 Resumão do Demori #5: a emergência climática chegou
Parecia coisa do futuro, uma preocupação com "nossos netos". Mas ela está aí.
É o novo normal. Há décadas cientistas na vanguarda da história nos mostram que este momento chegaria, e ele chegou. As chuvas que destruiram cidades no Rio Grande do Sul não devem mais ser esporádicas como eram no passado. A história não deve mais ser episódica como no passado – as conversas pescadas de nossos avós que lembram das cheias de muitas décadas atrás, de um passado remoto com seus eventos excepcionais, únicos, quase mitológicos.
Meu pai estava viajando naquele domingo de inverno de 1994. Quando a chuva de pedra começou nós estávamos na cozinha, eu, minha mãe e meu irmão. Lembro de minha mãe nos abrigando debaixo da mesa. Um barulho enorme, a luz caiu e por ali ficamos, cheios de medo. Quando tudo terminou, o telhado da nossa casa – de barro – estava em pedaços, assim como a cidade toda. Lembro de sair de bicicleta no dia seguinte, do cheiro de grama e de folhas de árvores trituradas misturadas ao gelo que levou tempo para sumir. Os carros com suas latarias amassadas pelo gelo circulariam por muitos anos ainda pela cidade, nos lembrando do acontecimento.
Eram eventos, como eu disse, únicos na vida de alguém. Hoje, se buscarmos no Google, acharemos dezenas de chuvas de granizo na mesma região nos últimos anos. As coisas mudaram rápido demais. Os avisos foram dados. É o novo normal.
🌪☔️🤬 Eduardo Leite discute ao vivo com jornalista
Enquanto o Rio Grande do Sul contava os mortos do maior desastre natural de sua história, o governador Eduardo Leite (PSDB) dava piti em rede nacional. Em entrevista à Globo News na noite de quarta-feira (6), o tucano afirmou que os modelos matemáticos previram chuva e a intensidade grandes, porém não apontavam o volume médio de 300mm – o que foi desmentido pela MetSul.
Ao ouvir a explicação do governador, o jornalista André Trigueiro disse que culpar as chuvas era o discurso utilizado pelos políticos toda vez que ocorre uma tragédia como essa e que isso vem se repetindo há anos. Leite então, já exaltado, interrompeu a fala do jornalista afirmando que Trigueiro mostrava “falta de empatia” com o Estado. O governador admitiu que, sim, o estado poderia ter tomado medidas mais eficientes para conter este tipo de situação, porém, mais uma vez citou o problema dos modelos matemáticos: “...a gente não aperta um botão e resolve as coisas da noite para o dia”, disse.
O jornalista então afirmou que vem cobrindo esse assunto há 30 anos e que esteve em Petrópolis (RJ) em 2011 e em Brumadinho: “Quando ocorre um evento dessa escala, dessa ordem de grandeza de tanta dor e sofrimento, é nosso dever fazer perguntas. É o meu ofício. Não estou culpando ninguém”, disse Trigueiro. A discussão continuou a tal ponto que Trigueiro afirmou que Leite estava se vitimizando: “E nem é justo aqui que se deposite em mim a ausência de ações de poder público ao longo da sua história. Estamos fazendo todo o esforço aqui. E a minha manifestação exaltada é porque nós estamos virando noites para poder atender [a população]. Eu estou sofrendo com o meu povo e não acho justo que se coloque a manifestação que você fez”, respondeu o governador.
O ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul deixou, até o fim da manhã deste domingo, 43 mortos e 46 desaparecidos.
🚨🚨🚨 Um exemplo sobre como agir em emergências
Na foto das barracas azuis, a estrutura montada na cidade de L´Aquila (Itália) nas 48h seguintes ao terremoto de 2009.
Ninguém me contou, eu estava lá.
Qual a diferença da Itália para o Brasil?
O que os governantes brasileiros não querem admitir e entender é que enchentes, assim como terremotos – mesmo que "imprevisíveis" – acontecem e acontecerão.
Qual a estrutura disponível pra lidar com isso quando acontecer? Quantas barracas têm nossas defesas civis? Em quanto tempo podem ser ativadas? Qual planejamento logístico? Qual a estrutura pra distribuir água, fazer resgates, cozinhar, cuidar das crianças?
Na foto abaixo, um dos ginásios que abrigam os desalojados.
A imagem diz tudo: nenhum preparo, nenhuma estrutura, tudo no improviso e na dependência da solidariedade do povo. "Muita chuva", eles dizem. "Volume inesperado", é a desculpa. Logo deve acontecer de novo. Que estrutura veremos: as barracas azuis ou o improviso constrangedor?
🗳️ O peso do voto
Este é o meteorologista de aluguel dos eventos de negacionismo climático. Ele se chama Luiz Carlos Molion. Um dia antes do início da tragédia climática no Rio Grande do Sul, ele estava na malfadada “CPI das ONGs” levando sua mensagem que tanto agrada a uma parte do Agro Pop do Brasil.
Molion é parceiro de eventos de Hamilton Mourão, senador eleito no Rio Grande do Sul.
Um dos seminários mais recentes de que participou teve também a presença de membros do governo Bolsonaro: o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro de Infraestrutura, Tarcisio Freitas. Foi um seminário virtual sobre a Amazônia em agosto deste ano organizado pelo Instituto General Villas Bôas, ONG do ex-comandante do Exército. – BBC
O outro senador do estado é Luis Carlos Heinze. O que ele pensa sobre tudo isso? Veja:
🚔🗣💎 Polícia Federal faz delação premiada de Mauro Cid
O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, fechou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal. A informação foi divulgada na tarde de quinta-feira (7). O STF já homologou a delação e concedeu liberdade provisória a Mauro Cid.
Cid está preso desde maio no Batalhão de Polícia do Exército em Brasília, acusado de falsificar cartões de vacinação de familiares e do ex-presidente. Além dessa acusação, Cid também é investigado por envolvimento no caso da minuta golpista encontrada na residência do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e também pela venda das joias e outros presentes recebidos por Bolsonaro e ainda por suposta participação na invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O ex-ajudante de ordens esteve no STF na tarde de quarta-feira (6) para informar à corte o acordo firmado com a PF, sendo recebido por um juiz do gabinete de Moraes. Nos últimos dias, Cid já permaneceu muitas horas depondo à Polícia Federal. Isso mostra uma evidência de que esse acordo de delação já vinha sendo gestado desde que a situação do militar começou a se complicar. Na última segunda-feira (4), por exemplo, o MPF de São Paulo afirmou que haviam “indícios suficientes de inserção criminosa de dados falsos”, no caso da falsificação dos cartões de vacinação.
Além de Cid, a cúpula de Exército também parece favorável ao acordo. Os milicos, vejam só, estão felizes com o aprofundamento das investigações, já que, a partir da delação e dos avanços da investigação, será, segundo eles, possível responsabilizar militares tanto da ativa quanto da reserva por eventuais crimes cometidos no escopo desses inquéritos. Me engana que eu gosto. A coisa toda é que uma delação de Cid poderia limitar o escopo das investigações e poupar militares graúdos.
⚖️🧑⚖️❌ Toffoli sobre Lava Jato: “Um dos maiores erros judiciários da história”
Antes tarde do que mais tarde, o ministro do STF Dias Toffoli anulou as provas obtidas através do acordo de leniência da Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato. O documento também garantia a revelação de irregularidades e pagamento de uma multa bilionária às autoridades brasileiras, suíças e norte-americanas.
Na quarta-feira (6), Toffoli leu a decisão acerca da ação impetrada pela defesa do presidente Lula em 2020 que questionava as decisões da 13ª Vara Federal de Curitiba. Ainda de acordo com a decisão, o STF teria solicitado que documentos pertencentes ao processo fossem enviados à Suprema Corte, porém, o pedido não foi totalmente atendido.
O acordo firmado entre a Odebrecht e o Ministério Público Federal foi uma das bases da decisão que decretou a prisão de Lula em 2018. Sobre isso o ministro afirmou “poder-se-ia chamar de um dos maiores erros judiciários da história do país” e “tratou-se de uma armação fruto de um projeto de poder de determinados agentes públicos em seu objetivo de conquista do Estado por meios aparentemente legais, mas com métodos e ações contra legem (ilegal)".
Parece que além da anulação das provas obtidas através do acordo, a batata de personagens como o por enquanto senador Sérgio Moro e o ex-deputado federal Deltan Dallagnol vai assar um pouco mais. Toffoli já afirmou que agentes públicos que tenham atuado diretamente nas ações ilegais serão processados e responderão a ações penais, de indenização e improbidade administrativa.
Mas há quem ainda tente salvar a pele dos ex-coleguinhas. A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) afirmaram que irão recorrer da decisão. O pedido deve ser analisado pela Segunda Turma do STF, composta por Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Edson Fachin, Nunes Marques e André Mendonça. Juristas já explicaram que as entidades que tentam proteger seus filiados não têm legitimidade para a ação, pois não são parte dela.
O que fazem é apenas um golpe de marketing barato, comprado, aliás, por uma penca de jornalistas lavajateiros – sempre os mesmos e as mesmas – que fizeram carreira e dinheiro com os vazamentos e parcerias com Moro e Deltan. Afinal, os livros que escreveram não podem ser “desmentidos”, não é mesmo? Seria ruim para os negócios.
🫠 Centrão mostra quem manda com a reforma ministerial
Imagine o seguinte cenário: você recria o até extinto Ministério do Esporte e, para comandar a pasta, escolhe uma das maiores, se não a maior atleta do vôlei feminino do Brasil, medalhista olímpica, vice-campeã mundial e há anos atuando como capitã da seleção brasileira. Além de tudo isso, sempre foi uma militante bastante ativa do seu partido.
Porém, nove meses depois você precisa demitir Ana Moser para dar o lugar dela ao deputado André Fufuca (PP/MA). Você pode estar se perguntando: Qual é a relação de Fufuca com o esporte? Nenhuma, ora. Ou ainda: Quem é Fufuca? Ah! Ele, que já era deputado federal em 2016, votou a favor do impeachment de Dilma. Sim.
E a coisa fica pior! O deputado Sílvio Costa Filho, do Republicanos/PE, (sim, o partido do Edir Macedo, do Tarcísio de Freitas, do Mourão, da Damares, entre outros), assumirá a vaga de Márcio França no Ministério de Portos e Aeroportos. Para reacomodar França no governo e não melindrar ainda mais o PSB, foi criado o Ministério da Pequena Empresa.
A desfaçatez é tanta que na quarta-feira (6) o Republicanos divulgou uma nota afirmando que o fato de receber um ministério não significa que o partido fará parte da base do governo Lula: "O Republicanos vem a público reiterar, mais uma vez, que não fará parte da base do governo Lula e seguirá atuando de forma independente", diz o documento. Entenderam, né? É tipo aquele personagem dos filmes: você negocia com ele, parece que está tudo bem, mas no dia seguinte ele pede mais.
”Eu vou fazer uma oferta que ele não poderá recusar.”
Arrivederci,
Um abraço do Leandro
(A pesquisa e os textos iniciais deste resumo são da autoria do jornalista Gerson Urguim, com edição de Ana Hetfield)
a castátrofe climática é para os pobres - os ricos vão viver