Resumão do Demori #17: Todos os depoimentos do golpe
STF levantou sigilo de tudo. Aqui, um resumo.
Sem sigilo, depoimentos afundam Bolsonaro no golpe
O ministro Alexandre de Moraes retirou o sigilo de 27 depoimentos à Polícia Federal na última sexta-feira (15) no âmbito da investigação da trama golpista. E o que se suspeitava veio à tona: Bolsonaro era um dos articuladores da tentativa de golpe após as eleições de 2022. A íntegra dos depoimentos foi liberada. A lista de depoentes é extensa e contém vários nomes próximos a Bolsonaro e que ocupavam cargos do alto escalão no governo anterior como os ex-ministros Walter Braga Neto, Augusto Heleno, Anderson Torres, entre outros. Quase todos ficaram calados, mas dois peixes grandes abriram a boca e colocaram Bolsonaro no centro de tudo.
Alguns trechos dos depoimentos chamaram a atenção: segundo o ex-chefe da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Junior, o ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, chegou a afirmar que, caso Bolsonaro insistisse com a tentativa de golpe, poderia prender o ex-presidente. O que, convenhamos, não seria má ideia. Também conforme o depoimento do ex-comandante, o Exército não participaria de nenhum movimento golpista e que Bolsonaro poderia, inclusive, ser responsabilizado juridicamente caso tivesse levado o plano até o fim. Leia o trecho:
"Baptista [Afirmou] que em uma das reuniões dos comandantes das Forças com o então presidente após o segundo turno das eleições, depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República."
😶🌫️ Só pra ficar na cabeça de vocês: é claro que tem aqui uma narrativa heróica que coloca os dois comandantes como salvadores da pátria. Vamos lembrar que tanto Freire Gomes quanto Baptista assinaram nota em 2022 para APOIAR os acampamentos golpistas em frente a suas unidades militares. Na nota divulgada no fim daquele ano, os comandantes chamaram os acampamentos de “manifestções populares” e citam que as Forças Armadas como “moderadoras” nos momentos mais importantes da história – o cretino uso do artigo 142 da Constituição onde eles se acham os donos do mundo. Se o golpe tivesse dado certo eles estariam hoje abraçados no Bolsonaro.
Fala, Valdemaaaaar
Em seu depoimento, o presidente do PL (partido do Bolsonaro), Valdemar da Costa Neto, disse que não concordava com as investidas de Bolsonaro para desacreditar o processo eleitoral. Ainda segundo Valdemar, o estudo contratado pelo partido para “verificar a lisura do processo eleitoral” foi realizado pelo obscuro Instituto Voto Legal por indicação do então ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes. Ele também afirmou que, com o vazamento do relatório, foi pressionado por Bolsonaro a ajuizar uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra as eleições.
Mas Valdemar disse mais: disse que deixou claro que Bolsonaro só não levou adiante seu projeto por falta de apoio, e confirmou que recebeu também as minutas golpistas – e que as triturou na sede do partido em Brasília. O documento já é conhecido, foi aquele encontrado no celular do Mauro Cid e que veio à tona na metade do ano passado. Mas vou deixar aqui o texto na íntegra pra quem quiser ler essa jóia – que estará nos livros de história –, uma mistura de olavismo com carluxismo cultural, que vai de citações a Aristoteles até a famosa frase das “quatro linhas”. Pode baixar aqui 👇👇👇
Absurdo
Agora, é sim um absurdo que os depoimentos tenham saído antes para redes de TV, sobretudo a Globo News, do que para os advogados. Enquanto eram lidos no ar, advogados de vários investigados estavam estavam no escuro tentando entender se teriam que ir pessoalmente ao STF conseguir as cópias – o processo é físico em pleno 2024. Isso mina o direito de defesa e, no futuro, vai deixando portas abertas para anulação de procedimentos e impunidade. Nesse ponto, lembra a Lava Jato, tudo o que não precisamos.
Não poderia faltar a Zambetta
E é claro que a trama golpista teria, mesmo que mínima, uma participação da deputada Carla Zambelli (PL-SP). Ela enviou uma mensagem ao então comandante da Aeronáutica em dezembro de 2022: "Brigadeiro, o senhor não pode deixar o Presidente Bolsonaro na mão". O oficial teria respondido: "Deputada, entendi o que a senhora está falando e não admito que a senhora proponha qualquer ilegalidade". Não, ela não cansa de passar vergonha. Lembrou o diálogo dela com Sergio Moro.
Bem, sobre Moro não estar a venda, deixo com vocês.
Festa boa tem mais brigadeiro
O brigadeiro Baptista Junior também afirmou que em uma reunião entre Bolsonaro e os comandantes das Forças Armadas, disse ao então presidente que não existia qualquer possibilidade de o inelegível permanecer no poder após 31 de dezembro de 2022.
O brigadeiro também disse que "ouviu" sobre a existência de uma ordem para atrasar a divulgação de um relatório feito pelo Ministério da Defesa que não demonstrava fraude nas urnas. E disse também que recebeu da cúpula do governo Bolsonaro várias teses de fraudes nas urnas.
A Marinha afunda
Ao contrário dos então comandantes do Exército e da Aeronáutica, o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, estava disposto a aderir à intentona golpista. Conforme o depoimento de Carlos Almeida Baptista Junior, o almirante colocou suas tropas à disposição de Bolsonaro. Ele permaneceu em silêncio diante dos delegas, assim como Braga Neto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e o próprio Bolsonaro – todos outrora tão falantes. Agora, e cada vez mais, parece que não falta mais nada para que Bolsonaro seja denunciado e vire réu por tentativa de golpe de estado. A ver.
_ pesquisa e texto base: Gerson Urguim