🔥 Resumão do Demori #3: A República em chamas
🧯 É, não foi fácil fazer esse resumo, mas ta tudo aqui 🧯
👋 Olá,
Esta é a terceira edição do Resumão do Demori, mensagem que mandarei todos os sábados aos nossos assinantes de A Grande Guerra. Hoje, excepcionalmente, vai aos domingos – tivemos um caso de Covid aqui em casa e as coisas ficaram um pouco bagunçadas.
Perdeu algo importante na semana? Não se preocupe: a gente recupera pra você. Pra fazer este resumo, contei com o trabalho de pesquisa do jornalista Gerson Urguim. Isso só foi possível graças aos nossos apoiadores. Portanto, antes de partir para a leitura, considere apoiar nosso trabalho. Qualquer valor ajuda!
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⌚ 🧳 Cid vai assumir que vendeu as joias a mando de Bolsonaro
Bem, ao menos foi o que disse o advogado dele para a revista Veja. A defesa do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, afirmou no início da noite da última quinta-feira (17) que o militar está disposto a confessar a venda das joias nos Estados Unidos. Disse mais: que Cid agiu seguindo ordens de Bolsonaro. Cid também deve ratificar que entregou os valores das vendas em dinheiro vivo ao ex-presidente ou à ex-primeira-dama, a dona Michele Bolsonaro.
O advogado Cezar Bitencourt, que assumiu a defesa de Cid na última semana, já havia afirmado na última terça-feira (15) que o seu cliente agiu como agiu porque estava cumprindo “ordens superiores”. Cid está preso preventivamente desde maio deste ano no Batalhão de Polícia do Exército em Brasília, acusado de falsificar cartões de vacinação de familiares e do ex-presidente. A investigação da Polícia Federal apontou o uso da estrutura do Estado para enriquecimento ilícito. Se você ainda não está sabendo, clique aqui porque a gente contou tudo.
A confissão de Cid derrubaria a teoria de que Bolsonaro não sabia das atividades ilegais do seu círculo próximo. Ainda segundo a defesa de Cid, após a venda dos itens nos EUA, Bolsonaro recebeu o valor em espécie quando seu ajudante retornou ao Brasil. As operações foram planejadas de modo a não deixar rastros no sistema financeiro nas contas dos Bolsonaro. O dinheiro era depositado na conta do pai de Cid, o general Lourena Cid, depois sacado e entregue a Bolsonaro.
Bitencourt pretende se reunir com o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do inquérito, para negociar a confissão que deverá ser usada como atenuante à pena a que Cid estará sujeito após o julgamento. Ventos de dentro da Polícia Federal, no entanto, dizem que a confissão de Cid é “desnecessária”, pois p caso já está fartamente documentado.
🤪 🫠 Eine grosse konfusion
Na manhã de sexta-feira (18), Bitencourt deu uma entrevista amalucada na Globo News. Ela foi ao ar depois que o Estadão publicou um print de uma única troca de mensagens entre um repórter e o advogado, onde ele parecia mudar a versão dada à Veja.
Peralá, doutor! “Não tem nada a ver com joias”? O certo é que isso causou um alvoroço tremendo até a hora em que o advogado apareceu na tela da Globo News, pouco antes das 14h.
Segundo ele, Cid não assumiria que vendeu “jóias”, mas apenas um Rolex. Mas garantiu: “o Rolex é jóia”. 🤷🏻♂️
Depois, disse que Cid “não entregaria Bolsonaro”, mas que agiu a mando do “chefe” – que é Bolsonaro. 🤷🏻♂️🤷🏻♂️
E então repetiu que o dinheiro da venda ilegal do Rolex nos EUA foi entregue “ao presidente ou à primeira-dama”. 🤷🏻♂️🤷🏻♂️🤷🏻♂️
Ô, doutor Cezar, me ajuda a te ajudar.
No fim, ficamos na mesma: o que parecia uma mudança de versão foi uma conversa de maluco. Sextou.
O advogado afirmou que Bolsonaro pediu a Cid para “resolver o problema do Rolex”, o que foi cumprido pelo ex-ajudante de ordens.
Mais tarde no mesmo dia, Bolsonaro deu uma entrevista dizendo o de sempre: não sabia de nada, e se sabia não tinha problema. Mas disse mais: que Cid tinha “autonomia” pra vender as jóias que eram dele, Bolsonaro, o chefe. Ou seja: empurrou o pepino pro subordinado. Deve ser o único caso do mundo em que o Ajudante de Ordens não cumpre ordens.
O problema é que Bolsonaro está todo enrolado nessa história. Em março, ele deu uma entrevista à CNN dizendo que as jóias estavam no Brasil, em seu acervo, e que devolveria sem problemas assim que desembarcasse no país. Quando a PF foi investigar, descobriu de modo documentado que as jóias não estavam no Brasil coisa nenhuma, elas foram para os Estados Unidos para serem vendidas. Um seguidor me mandou essa jóia de entrevista. Fiz um vídeo. Receba:
👨🏻💻 🫵🏻 Hacker compromete Bolsonaro em depoimento à CPMI dos atos antidemocráticos
Walter Delgatti Neto, conhecido como o hacker da Vaza Jato, prestou depoimento na última quinta-feira (17) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Preso desde o início do mês, Delgatti já havia prestado depoimento à Polícia Federal e implicado a deputada federal Carla Zambelli (PL/SP) como a responsável por intermediar o encontro com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Mais uma vez o hacker confessou ter sido o responsável pela invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ele diz ter inserido um falso mandado de prisão em desfavor do ministro Alexandre de Moraes, que teria sido emitido pelo próprio magistrado. Uma piada que seria usada pelos Bolsonaro para “provar” que os sistemas podem ser fraudados. Detalhe: o CNJ nada tem a ver com o sistema eleitoral, mas na lógica dos seguidores da seita isso pouco importaria. Walter afirma ter recebido o texto pronto de Carla Zambelli, mas não sabe se foi a própria deputada que redigiu o documento. O “documento” terminava com “publique-se, intime-se e faz o L. Assinado: Alexandre de Moraes". Eu juro por Deus que não estou brincando.
O depoimento de Delgatti à CPI trouxe informações que não haviam sido dadas à Polícia Federal em oitiva anterior. Apesar de ter obtido o direito de permanecer em silêncio, o hacker revelou novos fatos à comissão. Por exemplo, que havia considerado levar adiante um plano do marqueteiro de Bolsonaro, Duda Lima – uma falsa demonstração de vulnerabilidade das urnas eletrônicas.
A ideia teria surgido em uma reunião com o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto: criar um código-fonte falso e fazer uma apresentação em público usando uma urna eletrônica. Com o código criado por Delgatti – uma versão corrompida do código original da urna – ele digitaria 22 e, em um telão, apareceria 13: a “prova” de que a eleição seria fraudada. Eu juro por Deus, de novo, que não estou de sacanagem.
Delgatti também disse que Bolsonaro questionou se ele conseguiria invadir uma urna. Ele também reafirmou que foi o responsável por redigir as perguntas do Ministério da Defesa que foram enviadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas. Disse ainda que esteve por cinco vezes no Ministério da Defesa e que a ideia das visitas era obter informações sobre os sistema do TSE.
No fim da noite de quinta-feira, o ministro da Defesa José Múcio afirmou que iria solicitar à Polícia Federal que questionassem Delgatti sobre os militares que participaram do encontro da pasta com o hacker e, caso identificados, serão ser afastados. Delgatti citou nominalmente Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, general e ministro da Defesa de Bolsonaro, e Freire Gomes, general e ex-comandante do Exército. Só tem milico nessas trampas.
O caso ficou ainda mais sério quando Delgatti citou um suposto grampo ao ministro Alexandre de Moraes. De acordo com Delgatti, Bolsonaro teria dito que já havia uma escuta do ministro e que gostaria que Walter assumisse a autoria do crime. O objetivo era não gerar questionamentos da esquerda ao divulgar o grampo – não se sabe se isso de fato existe e qual seu teor – já que o hacker era visto com bons olhos pela oposição em função da Vaza Jato ter soltado Lula da cadeia.
O hacker também afirmou saber que estava cometendo um crime ao atentar contra o processo eleitoral, porém, assegurou que estava cumprindo as ordens do ex-presidente. Delgatti também disse à CPMI que Carla Zambelli lhe ofereceu um emprego e dinheiro. O hacker já entregou seu sigilo bancário à PF, onde aparecem depósitos de assessores de Zambelli a ele.
As declarações de Walter causaram diferentes reações entre os parlamentares presentes na sessão. Enquanto a base governista apreciava o depoimento, a oposição fazia cara feia e batia o pé. Um dos grandes momentos da oitiva envolveu o ex-juiz, ex-ministro da Justiça e, por enquanto, senador, Sérgio Moro (UniãoBrasil/PR).
Moro tentou impor a pecha de estelionatário ao hacker que respondeu: “Li a parte privada (das conversas da Vaza Jato) e posso dizer que o senhor é um criminoso contumaz, cometeu diversas irregularidades e crimes". Visivelmente contrariado, o senador questionou se Delgatti se considerava inocente, tal qual o presidente Lula. A resposta de Walter foi: "O senhor não foi preso porque recorreu à prerrogativa de foro por função", rebateu. Memorável:
Outra informação relevante que surgiu no depoimento de Delgatti foi o fato de que o ex- presidente ofereceu um indulto caso o hacker fosse preso pelos serviços prestados. Segundo Walter, Bolsonaro teria dito que, em caso de prisão, ele, Bolsonaro, “mandaria prender quem te prendeu”. As novas informações trazidas no depoimento do hacker à CPMI fizeram com que a Polícia Federal o intimasse novamente a uma nova oitiva, desta vez na sexta-feira (18), já que essas informações foram omitidas em depoimento anterior.
Segundo a senadora Eliziane Gama (PSD/MA), relatora da CPMI, a partir do depoimento do hacker já existem “fortes condições” para o indiciamento de Bolsonaro pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Já a defesa de Carla Zambelli, que até a noite de quinta-feira permanecia internada em um hospital de Brasília, afirma que as acusações de Delgatti são “invenções recheadas de mentiras”.
A defesa de Bolsonaro entrou com uma queixa-crime contra Delgatti, alegando que o ex- presidente nunca teria abordado a questão do grampo ao ministro Alexandre de Moraes. No depoimento, o hacker afirmou que se encontrou com Carla Zambelli em um posto de combustíveis na Rodovia dos Bandeirantes em São Paulo. Durante o encontro, Zambelli teria inserido um chip novo em um telefone celular e em seguida Bolsonaro teria entrado em contato.
Na manhã de sexta-feira, em seu novo depoimento à PF, Delgatti, foram apresentadas provas das informações que o hacker expôs na CPMI na quinta-feira e que podem complicar ainda mais a situação de Bolsonaro, de Zambelli e do ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, além de outras pessoas do círculo mais próximo do ex-presidente.
Conforme Ariovaldo Moreira, advogado de Walter, o hacker desistiu de fazer uma delação premiada, porém, solicitou o ingresso no Programa de Proteção à Testemunha, já que ele teme ser assassinado, ainda mais após a declaração da senadora Damares Alves (Republicanos/DF), que soou como uma ameaça. A senadora afirmou que “...a vida dá volta e é a tua vida é que está em risco”. A CPMI encaminhou ofícios ao Ministério da Justiça e ao Ministério dos Direitos Humanos para providenciar a inclusão de Delgatti no programa.
👮♂️ 🤦🏻♂️ Cúpula da PM do Distrito Federal é presa por omissão durante atos antidemocráticos
A Polícia Federal prendeu, na manhã da última sexta-feira (18), cinco policiais militares do alto escalão do Distrito Federal por suspeita de omissão nos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro em Brasília. Foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão e de prisão preventiva.
O atual comandante-geral da PM, coronel Klepter Rosa Gonçalves, o ex-comandante Fábio Augusto Vieira – que era o comandante à época dos atos golpistas – estão entre os detidos. Também foram presos o coronel Paulo José Ferreira de Souza Bezerra, o coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues e o tenente Rafael Pereira Martins. O coronel Jorge Naime e o tenente Flávio Silvestre Alencar, que também eram alvos da operação, já estavam presos.
As prisões foram solicitadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que denunciou os policiais militares no âmbito da das investigações que apuram as omissões deles nos atos golpistas. Além da omissão, os policiais também são acusados de crimes contra o Estado Democrático de Direito, dano qualificado e de violação dos deveres funcionais estabelecidos pela Constituição e as próprias normas da PM.
A investigação apontou que os policiais que estavam em posições de comando nos dias que antecederam os atos terroristas foram informados que havia um risco real de invasão às sedes dos Três Poderes, porém, não agiram para coibir o vandalismo. Pelo contrário: em mensagens apreendidas pela investigação, a cúpula da PM do DF falava até mesmo em impedir que a Força Nacional de Segurança pudesse conter os manifestantes.
“Eu não vou permitir a atuação da Força Nacional na nossa Esplanada, viu? Não vou autorizar”, disse o major Flávio de Alencar em mensagem enviada ao coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, ex-comandante do 1º Comando de Policiamento Regional (1º CPR) da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), na véspera dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
Além da omissão, o coronel Jorge Eduardo Naime também é acusado de ter utilizado a estrutura da corporação para transportar valores em dinheiro sem declaração e de forma não oficial, segundo o relatório da Polícia Federal. Em junho de 2021, ele teria transportado cerca de R$ 1 milhão de São Paulo até Brasília. Os valores pertenciam a uma pessoa identificada como Sérgio Barbosa de Assis. Para a PGR, a ação caracteriza uma relação econômica aparentemente ilícita entre Naime e o destinatário do dinheiro.
Uma mistura de negociata com golpismo.