Não é verdade que a declaração de Lula ontem ao Jornal Nacional foi a primeira vez que o PT admitiu corrupção em seus governos. Essa admissão – ou a famosa “autocrítica” tão cobrada do PT – já aconteceu inúmeras vezes.
Ainda em 2005, Lula foi ao Roda Viva e disse que o PT fez caixa dois de campanha e que aquilo era intolerável.
No também distante 2015, correntes internas importantes do partido disseram no congresso do próprio PT:
“As denúncias de corrupção — verdadeiras ou não — acabaram por golpear duramente a imagem do partido. Não podemos diluir nossas próprias responsabilidades na geleia geral em que se transformou grande parte do mundo político brasileiro”, afirma a corrente majoritária Partido que Muda o Brasil (PMB), do qual faz parte João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, preso desde o dia 15 de abril.
A corrente Mensagem destacou em sua tese que a “corrupção ou conivência com a corrupção mina a própria identidade socialista do PT”. Já o Partido para Todos reforçou a ideia de que não é válido acusar apenas um grupo do partido quando se trata do assunto corrupção, pois as más condutas administrativas estão presentes em quase todas as correntes petistas.
“Se antes era possível acusar um grupo ou uma corrente interna do PT por protagonizar as principais distorções que experimentamos no último período, hoje práticas que estão em desacordo com nossa ideologia, inclusive desvios éticos, atravessam a maioria das tendências”, diz o documento.
Em 2020, Aloísio Mercadante disse, em entrevista à Folha:
É tudo uma campanha contra o PT? Não houve erros do partido e do governo? O problema de financiamento de campanha era sistêmico. Evidente que houve corrupção. O que é inaceitável é a ênfase que se deu ao PT e a total omissão e rigor em relação a outras forças políticas. A Vaza Jato explicita isso.
Em 2021, Gilberto Carvalho disse, em entrevista à Veja:
"Houve corrupção durante os nossos governos? Claro que houve corrupção nos nossos governos, como há em qualquer governo, em qualquer instituição, empresa. Houve petistas que se corromperam? Houve. Houve aliados nossos que se corromperam? Houve."
Há mais exemplos por aí. É incontestável, no entanto, a importância de Lula ter dito em entrevista ao JN que houve, de fato, roubo de dinheiro público nos governos petistas.
Em tempos de comunicação fragmentada, nichos de informação e hiperconexão turbinada por notícias falsas no zap, é bastante provável que milhões de pessoas tenham visto a cena pela primeira vez. E ela precisava ser vista por milhões de pessoas – indecisos que têm tudo pra votar no Lula mas ainda torcem a boca pelos escândalos do passado, nunca admitidos diante delas. E isso foi feito pela primeira vez, ao vivo, no maio púlpito eletrônico do país.
O antipetismo se alimenta da “corrupção do PT”, tratada falsamente como única, exceção na política e maior do mundo. Para os antipetistas – que usam esse sentimento como arma da retórica política –, Lula é “o maior ladrão da história do país”. Você conhece os argumentos.
O antipetismo morre seco sem o trunfo do “maior escândalo de corrupção do mundo”, o lema da Lava Jato que levou Bolsonaro ao poder. Não importa que tudo isso seja falso, política se faz também com mentiras.
Lula desarma ao fazer a “confissão”. Por anos o PT dizia que autocrítica era diferente de “ajoelhar no milho”, e tinha razão. Lula não ajoelhou. Disse o que precisava ser dito, no tom certo, no contexto justo e na hora perfeita. Faltam 36 dias para o primeiro turno. Os coelhos na cartola da extrema direita estão acabando.
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