📄 Documento: Igreja pune fiel por “defesa do pensamento marxista”
❌ Temporada de caça e expurgo começou. Tudo para reeleger Bolsonaro.
Esta reportagem causou forte impacto nos bastidores da Igreja Presbiteriana do Brasil:
Uma das instituições evangélicas mais tradicionais do País abriu os púlpitos para a campanha do presidente Jair Bolsonaro. Disposta a impedir adesão de seus seguidores a candidatos alinhados à esquerda, a igreja quer criar uma comissão interna para definir regras gerais a serem repassadas aos seus pastores. A ideia é que os fiéis sejam orientados a se afastar do “comunismo” e daquilo que os líderes classificam como “nefasta influência do pensamento de esquerda”.
A base da reportagem foi um documento interno da instituição que deve ser debatido no Supremo Concílio, que acontece hoje, em Cuiabá. O Supremo Concílio é o órgão máximo da instituição e se reúne periodicamente.
O documento legaliza a perseguição e o expurgo de fiéis progressistas dos bancos da igreja. Uma tentativa oficial de transformar a congregação em um clube da extrema direita – a “esquerda”, aqui, é entendida em termos bolsonaristas: tudo o que não está “do nosso lado” deve ser eliminado.
O problema, no entanto, é maior do que parece. Mesmo que essa aberração não seja aprovada, a Igreja Presbiteriana do Brasil já está punindo fiéis usando o “esquerdismo” como argumento central. Uma fonte da igreja me procurou para provar que, de fato, a perseguição já existe e está documentada.
Pena por “defesa do pensamento marxista”
Em março deste ano, uma fiel presbiteriana com mais de 50 anos prestados à congregação foi condenada pelo Tribunal de Recursos do Supremo Concílio, o equivalente ao STF. Motivos:
1️⃣ Ter posições favoráveis ao aborto nos termos da lei brasileira, inclusive em casos de estupro;
2️⃣ Defesa do marxismo.
Ou seja: mesmo que o documento de orientação anti-esquerda seja derrubado na reunião de hoje em Cuiabá, o fato é que o Judiciário da igreja já abriu a temporada de caça e expurgo de esquerdistas.
Em cinco décadas na igreja, a fiel condenada por “defesa do pensamento marxista” jamais sofrera nenhum tipo de perseguição por seus posicionamentos. Com o bolsonarismo latente dos últimos anos, a IPB se sentiu livre para começar a segregar seus irmãos.
A pena, neste caso, foi o afastamento da fiel de todas as funções que ocupava na igreja e a proibição de participar da Santa Ceia – a eucaristia entre presbiterianos.
Pacto com o diabo
No acórdão da condenação, o tribunal diz esperar que sua irmã “retorne à sensatez” – e compara sua posição ideológica a um pacto com o diabo:
Como negar?
Os líderes da IPB sentiram o impacto da reportagem do Estadão: o presidente da igreja deu uma entrevista ao mesmo jornal negando que faça perseguição política; o diretor do Seminário Teológico Presbiteriano, Ageu Magalhães Jr., emendou; o reverendo Arival Casemira, uma liderança importante, colocou a culpa na imprensa (claro) e disse que o documento é apenas uma proposta ainda não debatida.
E quanto à condenação por “defesa do pensamento marxista”? Se a criminalização da esquerda está apenas no nível do debate de ideias, por que uma pessoa já foi condenada por isso? Essa pessoa, hoje, está pagando sua pena.
Mais: a igreja que diz condenar manifestações políticas permite pedidos de voto em Jair Bolsonaro em seus púlpitos.
É a mesma igreja onde o pastor Emerson Patriota – genro de Osni Ferreira, o homem do vídeo acima – usou o Instagram para espalhar propaganda anti-máscaras durante a pandemia.
Patriota também pediu “jejum pela Nação” na semana do 7 de setembro de 2021, quando Bolsonaro tentou sua aventura golpista
E ESTACIONOU UM ÔNIBUS (sim) do Aliança Pelo Brasil no pátio da igreja, orientando os fiéis a aderirem ao abaixo assinado do fracassado partido de Jair Bolsonaro.
Querem nos fazer acreditar que não perseguem a esquerda – o que fazem – e que qualquer bolsonarismo é mera coincidência – e não é.
Humano, demasiado humano
Vale lembrar que Milton Ribeiro, o ex-ministro da Educação enrolado com o escândalo de corrupção no MEC, é ex-pastor presbiteriano, ex-reitor da Faculdade Presbiteriana Mackenzie e frequentador as altas rodas da hierarquia da igreja. A IPB é influente no governo. Coisas bem mundanas. Deus nada tem a ver com isso.
📧 De todo modo, se você desejar, pode perguntar à própria igreja por que ela está punindo quem discorda da ideologia que beneficia o bolsonarismo. O e-mail é este aqui: apecom@ipb.org.br
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Essa matéria abalou meu dia, que coisa mais absurda, quando essas loucuras vão acabar ? #forabozo