Eu não vou fazer rodeios: essa é a mensagem mais importante que mando desde que criamos A Grande Guerra. Eu peço que você tire 4 minutos do seu tempo e leia até o final.
Muitas angústias me atingiram desde que decidi começar esse novo projeto – a newsletter que você lê agora e nosso canal de You Tube. Vou confessar: tive medo de dar esse passo, e ainda tenho medo de seguir os próximos. Me desfiz de muitas coisas pra poder estar escrevendo este texto.
Posso dizer que tenho mais medo hoje do que tive em qualquer outro momento da minha carreira – iniciada lá nos anos 1990 em um jornal no interior do Brasil, antes mesmo da chegada da Internet. Criado em uma região “muito longe de tudo”, sem informação e com poucos mestres, eu sempre tive que exercitar a coragem para chegar nos lugares que jamais sonhei. Muitas vezes bati a cabeça na parede pela insistência imatura, e de algum modo era a imaturidade que me ajudava a ganhar impulso. Eu não sabia, fui descobrir muito mais tarde. Não sei se faria algo diferente, e hoje isso pouco importa. Na falta de algo melhor, nunca me faltou coragem.
E o momento, justamente, pede que não tenhamos medo. Pede, mais do que nunca, coragem.
Vivemos anos de uma tempestade que soprou os mais terríveis ventos para destruir nossa democracia e nossa convivência social. A confiança entre brasileiros ruiu e famílias foram separadas por disputas políticas que dependem do caos e do ódio para vencer. Não se engane, é assim que roda a máquina de lama. Separar pais e irmãos em uma luta de nós contra eles não foi um acidente de percusso – é um projeto e vai nos destruir.
Se por um lado lamentamos que o projeto de terror da extrema direita global tenha feito estragos quase irreversíveis no Brasil – e que levaremos anos para consertar –, por outro devemos celebrar só por uma noite: chegamos vivos e prontos para a luta.
Muitos não conseguiram. Milhares foram levados da vida pelas políticas criminosas durante a gestão assassina da pandemia. A eles, nosso luto. É por eles que gritamos pelo dia de amanhã. Um amanhã de ódios aplacados, temores abrandados, e que será pleno.
Pessoalmente foi muito difícil para mim e para a minha família seguirmos abrindo os olhos à espera do sol.
O jornalismo esteve entre os principais alvos das forças do mal que guiaram parte da humanidade ao abismo. Viramos presas, inimigos da nação, párias, traidores, bandidos. Nos chamam de ladrão, de bicha, maconheiro, enquanto transformam o país inteiro num puteiro, pois (você sabe o resto) assim se ganha mais dinheiro.
Fui e sigo sendo processado. Fui perseguido e atacado. Fui difamado por covardes. E fui dolorosamente abandonado por muitos que eu considerava amigos. Minha mulher e meu filho sentiram tudo. Tivemos que mudar de casa, de escola, de rotina e de vida. Nunca se está pronto para uma avalanche.
Já pensei em desistir, muitas vezes.
Aconselhado, cogitei procurar emprego longe dos holofotes da briga diária pela Democracia. Muitos de meus amigos e familiares sequer entendem que briga é essa, e não lhes tiro a razão. Em um país tão maltratado como o nosso, Democracia é um conceito elástico e intermitente, uma luz que se apaga e se acende em intervalos misteriosos. As pessoas se acostumam à luz assim como à escuridão.
Mas eu decidi seguir. E A Grande Guerra está aqui para isso: para que possamos seguir juntos.
No mês passado, graças ao suporte de cerca de 500 apoiadores, contratamos três pessoas para editar vídeos, pensar em redes sociais e fazer o design do canal do You Tube e da newsletter. Precisamos de mais braços.
Esses 500 amigos são o tipo de gente com quem eu sempre sonhei dividir uma luta, pessoas que se levantam para defender a verdade. Gente de coragem. Não importa se doam 10 ou 1000 reais por mês. Cada um conforme suas possibilidades, e a todos o nosso compromisso de entregar jornalismo de alta qualidade e de nuna fugir do bom combate.
Doadores regulares representam nosso melhor tiro de longa distância. É graças a eles que podemos fazer planos e construir um trabalho sólido e confiável. Não buscamos, nesse primeiro momento, dinheiro de fundações ou da publicidade convencional. Nossa ideia desde o começo foi a de construir uma comunidade. Eu fico feliz em ver as estradas sendo pavimentadas.
Nosso trabalho já reflete em muitos outros lugares. Recém lançada, A Grande Guerra fez a diferença para que pessoas não fossem perseguidas em igrejas evangélicas por suas ideologias, por exemplo. Recebi mensagens emocionantes de agradecimento depois que denunciamos o caso. Há ainda muito mais por vir, e por isso eu pedi que você chegasse até aqui.
Já sou apoiadora e muito me orgulho de seu jornalismo e coragem.
Vamos juntos, Demori! Sou membro do canal e sempre que posso estou dando aquela força nos superchat. Abraço!